Pe. Libério Rodrigues Moreira foi um sacerdote cuja vida foi marcada pela simplicidade, devoção e profundo amor ao próximo. Nascido em Lagoa Santa, Minas Gerais, em 1884, dedicou-se ao serviço de Deus e à pastoral, enfrentando desafios financeiros e pessoais com uma fé inabalável. Sua trajetória, marcada pela superação e um coração voltado para o povo, tornou-o um símbolo de humildade e fé. Esta biografia conta a história de sua vida, missão e legado de amor, que continua vivo entre os fiéis até hoje.
Libério nascem em 30 de junho de 1884, em Lagoa Santa. Seus pais eram: Joaquim Rodrigues de Castro e Francisca Moreira da Costa. Libério trabalhou em serviços mais humildes, como carreiro, servente de pedreiro. Desde pequeno, Libério acalentou o sonho de ser padre. Aos 21 anos ainda não tinha realizado esse sonho. Os custos dos estudos no seminário eram caros para a sua família. Ele tinha um primo que era padre, padre Vieira. Esse primo termina por ajudá-lo a ingressar no seminário em 1905. Com a transferência do padre Vieira para a cidade de Barra Longa, próxima a Mariana, Libério foi junto no intuito de começar seus estudos no seminário. Barra Longa foi fundada por Matias da Silva Barbosa em 1711. A pedido do governador da época, Matias Barbosa tinha como missão combater os índios botocudos e acaiabas. Imagine-se o sofrimento de Libério ao deixar sua família sem nenhum recurso para o sustento.
Enquanto seu primo fora para Barra Longa, Libério foi para Mariana, mais especificamente para o seminário de Nossa Senhora da Boa Morte. Ali permaneceria durante dez anos. Ele não tinha condições de visitar sua família, pois o transporte na época era muito caro. Parece certo que Libério ficou esse tempo todo sem ver a sua família. Aos idos de 1916, ele mais três seminaristas receberam as ordens menores e posteriormente a ordenação sacerdotal. Libério foi muito bem nos estudos, em algumas matérias ele alcançou aproveitamento total, como mostra o boletim de notas.
O mais certo que Libério visitaria seu primo várias vezes no ano, pois Barra Longa era próxima a cidade de Mariana. Não consta que Libério tenha morado em Barra Longa. O seminário de N. S. da Boa Morte era muito concorrido, pois era dos mais conceituados centros de estudos da época.

Os seminaristas mais pobres desenvolviam tarefas mais humildes como faxineiro, porteiro, ou lavador de banheiros. Libério deve ter exercido estas tarefas. Todos sabem que a região de Mariana é muito fria. Por isso, imaginamos que Libério tenha sofrido com o frio, pois sendo pobre não teria sempre um agasalho adequado.
Além de não terem contato com os familiares, a eles não era permitido ter contato com jornais e revistas. Eles viviam isolados do resto do mundo. Isso consistia para muitos extrema provação. A fome esteve presente em muitos momentos de sua vida, na infância em Lagoa Santa, em Mateus Leme, e agora no seminário. O seminário vivia de doações de fazendeiros. Muitas vezes falta algum alimento. As vezes se comia o mesmo alimento durante vários dias.
A batina era mesma durante todo o ano. Se ele não ganhasse outra, remendava aquela até ter outra nova. Libério estudava muitas matérias, entre elas o francês, o grego e o Latim. As notas de Libério eram boas, num total de 7, a maioria de suas notas era 6.
Em sete março de 1913, recebeu a tonsura das mãos do Arcebispo Dom Silvério Gomes Pimenta que era um tipo de corte de cabelo. Significava que ele estava renunciando as vaidades humanas. Em vinte oito de março de 1914, Libério recebeu as ordens menores.
Dom Silvério Gomes Pimenta foi o primeiro arcebispo negro da história brasileira. Ele nasceu em 12 de janeiro de 1840, em Congonhas do Campo. Ficou órfão aos quatro anos de idade, foi ordenado em 1862 aos 22 anos em Sabará. Era poliglota, conhecia latim, grego e hebraico. Fez várias viagens à Europa. Conta-se que quando de uma visita ao Papa Pio IX, o mesmo perguntou ao reitor do seminário de Mariana que estava junto, em qual idioma devo me comunicar, ao que o reitor respondeu, pode escolher, latim, grego, hebraico, francês e alemão.

Dom Silvério foi escolhido para compor a Academia Brasileira de Letras, em 1919. Ele ocupou a cadeira 19. Ele faleceu em Mariana em trinta de agosto de 1922.
Em 20 de março, Libério Rodrigues Moreira recebeu o subdiaconato, ordem extinta pelo Papa Paulo VI em 1972. Em 06 de abril de 1915, Libério recebeu o diaconato. Naquela noite eram quatros formandos: Libério Rodrigues Moreira, Luiz Figueiredo, Romeu Borges da Fonseca e João Dileu.
Aos 31 anos de idade, Libério Rodrigues Moreira era ordenado sacerdote, em 25 de abril de 1916 pela imposição das mãos de Dom Silvério. Padre Libério foi designado para auxiliar de Padre Mathias Lobato, em Pitangui. O trabalho maior do Pe. Libério era reconstruir a Igreja do Pilar, destruída em um incêndio em 1914.
Pe. Libério celebra sua primeira missa em Mateus Leme, ao lado do seu primo Pe. Joaquim Paulo Vieira, sua mãe e seus irmãos. Ao invés de celebrar em Lagoa Santa sua cidade natal, Pe. Libério preferiu celebrar sua primeira missa em Mateus Leme, talvez porque deslocar sua família seria uma dificuldade devido do custo da viagem. Na celebração da missa, a Banda de Música São Luiz Gonzaga de Mateus Leme tocou. A missa aconteceu aos 21 de junho de 1916.
Às 10 horas da manhã conta um jornal da época, Pe. Hermenegildo Villaça com uma procissão passam na casa do Neossacerdote, Pe. Libério. Pe. Joaquim Vieria e Pe. João Ferreira se associam a eles e sobem até a matriz.
O neossacerdote vai embaixo do pálio da Imaculada Conceição até a Matriz. Logo após a missa, todos beijaram a mão do sacerdote, sendo primeira a sua mãe, Dona Francisca.
Foram servidos doces e sequilhos em uma grande mesa para todos os participantes.
No dia 22, um dia após a primeira missa do P. Libério, foi celebrada a missa de Corpus Christi. As ruas foram ricamente enfeitadas para o cortejo. No andamento da procissão foi cantado o pange-lingua (canto eucarístico composto por São Tomaz de Aquino) por todos os padres presentes.
Terminadas as festividades, Pe. Libério teria que deixar novamente seus familiares e seguir para a sua missão. Ele fora designado para trabalhar em Pitangui. Ele chegou em meados de 1916. Pe. Libério irá encontrar uma cidade ainda chocada pelo incêndio que destruiu por completo a matriz de Nossa Senhora do Pilar.
Houve um outro incêndio, uma antiga igreja foi destruída pelo fogo em 1854, e esse incêndio em 1914. Esse último incêndio se deu numa quarta-feira no dia 28 de janeiro de 1914. As labaredas consumiram o grande templo em apenas 3 horas. Alguns poucos objetos foram salvos. A causa do incêndio foi uma vela mal apagada deixada debaixo do altar principal.
Pe. Libério, então, vai encontrar um povo ainda muito tocado pelo episódio. Vai encontrar uma cidade triste. No entanto, ele encontra um grande sacerdote, pe. Matias Lobato, que fora 16º vigário de Pitangui. Pe. Matias foi muito querido pelo povo de Pitangui, era desprendido e solícito.
Pe. Libério chegando se junta ao Pe. Matias na reconstrução da matriz do Pilar. Provavelmente, foi muito fácil para o Pe. Libério que já tinha vasta experiência com construções. Esta igreja foi a primeira que Pe. Libério administrou.
Além do trabalho de coadjutor, Pe. Libério foi professor de religião no antigo ginásio estadual. Um jornalista da época, escreveu que quando pequeno frequentou as aulas do Pe. Libério. Que no início, a maioria dos alunos saiam da sala para o pátio sem se importar com as aulas do padre. Mas com o passar do tempo, eles não saiam mais, ficam longo tempo escutando a voz do Pe. Libério.
O atendimento às comunidades era feito a cavalo, o transporte mais popular da época. E vez por outra era fácil encontrar Pe. Libério em cima de um cavalo indo a algum lugar, batizar, casar, benzer, confessar e encomendar.
Num dia de 1917, Pe. Matias se afasta para um tratamento de saúde e Pe. Libério assume todas as atividades da paróquia. Pe. Matias morre no mesmo ano e não finaliza a obra de reconstrução da sua amada Matriz do Pilar.
No mesmo ano de 1917, foi designado para atuar como pároco regente, Pe. Artur de Oliveira. Pe. Libério e Pe. Artur eram muito diferentes. Enquanto Pe. Artur usava batinas e sapatos de forma impecável, Pe. Libério sempre estava com a batina e os sapatos puídos e surrados. A humildade e falta completa de vaidade eram características marcantes do Pe. Libério. Mesmo já instalado na paróquia, Pe. Libério não tinha condições de trazer a sua família para junto de si. Talvez por dividir a casa com o Pe. Artur, talvez pela sua condição financeira.
Fato interessante aconteceu 1921, Pe. Artur pede a diocese de Belo Horizonte autorização para que ele e Pe. Libério benzesse a Igreja de Leandro Ferreira, que havia passado por uma pequena reforma. Pe. Libério benze aquela que seria a sua última paróquia.
Pe. Libério fica em Pitangui como coadjutor até 1923. Nesta época, a diocese de Belo Horizonte já havia sido criada e seu bispo era Dom Antônio dos Santos Cabral. Neste mesmo ano, Pe. Libério foi designado como cura da paróquia de Pequi e encarregado também de São José da Varginha.

Com a ida do Pe. Libério para a cidade de Pequi como pároco, ficaria mais fácil reunir sua família em vota de si. Ao que parece, eles se mudaram para Pequi, assim que Pe. Libério assumiu a paróquia.
Nesse mesmo tempo, a diocese de Belo Horizonte passou à Arquidiocese pelas mãos do Papa Pio XI. Pe. Libério toma posse como pároco em 17 de fevereiro de 1924. A rotina do Pe. Libério era a mesma como em Pitangui, batizados, casamentos, missas. Porém, ele fazia algo muito importante, organizar a paróquia em termos de documentação. Ele fez um inventário da Igreja com todos os seus objetos e da casa paroquial. Pe. Libério era um padre muito zeloso e atento.
Ele descreve no livro de tombo da época, a situação das duas Igrejas de Pequi, a de Nossa Senhora do Rosário e a de São José. Detalhes sobre a conservação dos objetos litúrgicos e da própria estrutura. Ele era detalhista. Relatava a quantidades de pratos, talheres, colchões, copos de vidro etc.
A cidade de Pequi leva esse nome por causa de um pequizeiro e do seu comércio que tinha logo a sua frente. Um nome sempre lembrado pelos moradores, além do Pe. Libério, era do Pe. João Mãnia, que estava em Pequi quando da sagração da Igreja de Nossa Senhora do Rosário por Dom Silvério, aquele que havia ordenado Pe. Libério.
A posse do Pe. Libério se deu em 17 de fevereiro de 1924. Logo que tomou posse, Pe. Libério ocupou-se de sua rotina, atendendo a todos os fiéis, com batizados, casamentos e que deve ter tomado muito o seu tempo, o inventário dos bens da paróquia.
A localidade de São José da Varginha ficará também sob sua responsabilidade. Nesta, Pe. Libério fez o mesmo trabalho de inventariar todos os bens pertencentes à Igreja. Pe. Libério tentava ser o mais transparente possível, de modo que, quando fosse transferido, o outro padre teria uma visão completa da paróquia.
Pe Libério foi o oitavo padre a dirigir aquela paróquia. Pe. Libério também deu aulas de religião no Grupo Escolar de Pequy. A família do Pe. Libério vivia numa casa simples no largo do Santo Antônio. Neste tempo, Pe. Libério pode reunir todos os membros de sua família, a mãe, Dona Francisca, a irmã Maria e o irmão Antônio. Maria, a irmã mais nova, provavelmente trabalha em serviços de casa ou em atividades na zona rural. O irmão Antônio tinha certa deficiência intelectual e inspirava cuidados, principalmente nas grandes festas, por causa da aglomeração de muitas pessoas. O irmão Antônio era dependente da mãe e da irmã como uma criança. Jamais eles poderiam deixá-lo sozinho.
Pe Libério havia desenvolvido na época de seminário uma grande dificuldade de deglutição que comprometia a sua fala. O trabalho na paróquia era muito exigente e dependia de que o padre passasse muitos dias fora de casa, em comunidades rurais distantes. Ele benzia, animais, plantações, casas. Já em Pequy a fé em suas benzenções começa se propagar. O acolhimento que ele dispensava as pessoas era a marca registrada de seus encontros. A valorização do povo mais simples. Naquela época, as pessoas sentiam que Pe. Libério era um membro de suas famílias, como um irmão mais velho, um avô ou mesmo um pai. Ainda hoje, esta forma de ver o Pe. Libério é recorrente. A devoção a sua pessoa é passada de geração a geração. Ele é o pai, o avô querido.
Em Pequy, é importante destacar as missas celebradas por Pe. Libério na fazenda de Sr. Salustiano em meados de 1924. Vale lembrar que Pe. Libério era padrinho de um dos filhos de Salustiano. Vale lembrar que o filho do sr. Salustiano guarda até hoje com muito carinho um dos chapéus que foi do saudoso Pe. Libério.
As precárias condições financeiras persistiam, mesmo como padre regente. Há uma carta endereçada à Arquidiocese de Mariana relatando essa dificuldade que não obteve resposta.
O ano de 1926 foi marcado por uma tragédia que abalou toda a família do padre. Seu irmão Antônio havia morrido em as circunstâncias misteriosas. A família ficou amedrontada e pensava em até mudar da cidade. A violência da morte de Antônio causava medo e preocupação na mãe e na irmã do padre, ao ponto que qualquer visita que surgisse na porta de casa, era motivo de pânico.
Pe. Libério procurava acalmar a mãe e a irmã com a sua presença e apesar do abatimento pela perda do irmão, tentava manter as atividades da paróquia. A falta de alimentos voltava a casa tornando a situação mais desesperadora. Em documento endereçado a Arquidiocese Pe. Libério expõe a situação que castigava a ele, sua mãe e sua irmã.
Com os últimos acontecimentos se agrava ainda mais o seu problema de deglutição e de dicção. Ele sempre pedia nas casas em que pernoitava que a comida fosse pastosa para facilitar a ingestão. Parece que a morte do irmão e as dificuldades da paróquia foram aos poucos tirando a saúde do padre.
A causa da morte do irmão foi hidropisia causada por violenta agressão. Ninguém nunca soube de fato o que aconteceu. Antônio Rodrigues Moreira faleceu aos 43 anos de idade, em Pequy, depois de ficar em estado grave durante 3 dias.
Após a morte do irmão, Pe. Libério começou a enfrentar dificuldades na condução dos trabalhos da paróquia. Em carta a Arquidiocese de Belo Horizonte, Pe. Libério relata que alguns moradores não concordavam com o que era proposto pelos memorandos vindos da cúria. Eles não obedeciam ao padre, nem se interessavam pelos assuntos da Igreja.
Em primeiro de junho de 1926, o jornal da época relatou que seria erigida uma nova igreja no lugar da antiga na praça de Santo Antônio e que seria um templo majestoso.
A morte do irmão nunca foi relatada por Pe. Libério à arquidiocese. Também não há nenhuma nota de pesar em nenhum jornal da época. Os dirigentes da Arquidiocese continuaram a ignorar os pedidos de ajuda do padre.
O ano de 1926 foi muito doloroso para Pe. Libério. Tanto assim que não nenhum registro de suas atividades neste ano. Ele começa ao ano de 1927 relatando a Arquidiocese o desejo de construir uma capela na comunidade de Jaguara.
Como não recebia resposta da Arquidiocese, Pe. Libério começou a enviar os problemas relatando possíveis soluções, como forma de forçar a Arquidiocese a dar uma resposta. Assim passou a receber respostas para as suas demandas.
Em 1924, a pedido de Monsenhor Fernando Barbosa, Pe. Libério assume os trabalhos com relação a Jaguará. Ele começou a realizar batizados, casamentos e ouvia confissões. Um fato interessante acontece. Monsenhor Fernando passou a exigir que fosse comunicado a respeito de toda ação realizada em Jaguará. Exigiu que o Pe. Libério anulasse todos os casamentos e batizados que tivessem sido naquele ano de 1924. Com isso Pe. Libério ficou afastado da comunidade durante um ano. Depois da comunidade de Jaguará apresentar um abaixo assinado pedindo a volta do Pe. Libério a Dom Antônio Santos Cabral. O arcebispo passou a custódia definitivamente desta comunidade para Pe. Libério.
O ano de 1928 foi marcado pela depressão que desenvolvera a mãe do Pe. Libério. Ela não havia se recuperado do trauma da morte do filho Antônio. Debilitada pela depressão, dona Francisca passa a acreditar que Antônio estivesse em algum lugar fora da casa simples onde eles moravam.
O estado emocional de dona Francisca estava se deteriorando a cada dia. Morar naquele lugar, cheio de lembranças dolorosas estava ficando impossível para ela. Pe. Libério não viu alternativa a não ser tentar mudar sua mãe para um outro lugar, longe daquelas lembranças dolorosas. Pe. Libério não conseguiu convencê-la a mudar-se de cidade e como era início de ano, aproximava-se a data da morte de Antônio, o que tornara o período mais doloroso para dona Francisca.
Três anos depois, a mãe e a irmã do Pe. Libério partiram para a cidade vizinha de São José da Varginha. Era o início do ano de 1929. Aquele gesto era necessário visto que a mãe do Pe. L ibério já tinha sucumbido a depressão e já havia algum comprometimento das suas faculdades mentais.
Mesmo depois da mudança para São José da Varginha, Pe. Libério continuou o seu trabalho de pároco de Pequy. Pe. Libério fazia uma peregrinação para ir a Pequy, visto que não poderia deixar sua mãe e sua irmã sozinhas, por isso ia e voltava em lombo de cavalo. Em São José da Varginha havia algumas urgências que deveriam ser atendidas, como a reforma da matriz, construção de um novo cemitério.
Pe. Libério continua a sua atividade de professor de religião e recrutava, sempre que fosse possível, em todas as comunidades, pessoas para a atividade de catequista. Ele trabalhava também para a Fundação de Associações Religiosas. A vida no arraial era muito tranquila, isso acalmava um pouco as aflições de dona Francisca. O problema que se apresentava agora era a falta de recursos. Pe. Libério enfrentou dificuldades financeiras graves, o que se vê nas cartas que ele enviava à Arquidiocese de Belo Horizonte. Mesmo assim, a instituição não se posicionava, deixando o sem solução para o problema.
O jejum já não era mais um ato de fé, mais uma imposição. Essa situação pode ter causados danos emocionais irreparáveis a dona Francisca. Havia alguns amigos que sensíveis a situação da família, ajudavam com algumas doações, tornando a situação um pouco mais suportável.
Em 31 de dezembro de 1929, Pe. Libério envia uma carta à Arquidiocese relatando as suas atividades paroquiais, mas não mencionou a sua mudança para São José da Varginha.
Pe. Libério percorria longas distâncias em lombo de cavalo para atender as várias demandas de Pequy e São José da Varginha. Ele sempre pernoitava na casa de um e de outro paroquiano, isso terminava por criar um elo muito forte entre a família e o Padre. Os objetos usados por Pe. Libério na estadia, acabava por se tornar objeto de devoção para a família.
No início de 1930, as estradas começavam a ter melhorias, e algumas vezes Pe. Libério ia a Pequy de automóvel. No entanto, o transporte e sua estadia em hotel da cidade eram pagos com seu próprio dinheiro, como consta de uma carta enviada à Arquidiocese de Belo Horizonte.
Pe. Libério não media esforços para estar nas mais longínquas fazendas, nos grotões das duas paróquias, para realizar um casamento, batizado ou mesmo para uma benzeção. Suas benzenções adquiriam status de atos extraordinários. Começou neste tempo a divulgação de histórias fenomenais em torno de suas atividades.
Pe. Libério era extremamente obediente as orientações de seus superiores. Pe. Libério era leitor assíduo das comunicações da Arquidiocese. Pe. Libério continuou os trabalhos entre a comunidade de São José da Varginha e a paróquia de Pequy. Nos primeiros anos da década de 1930, as reuniões dos padres com Dom Cabral se tornaram mais frequentes, possibilitando a ampliação de discussões em torno de problemas comuns.
Isso parece ter motivado Pe. Libério a escrever sobre esses assuntos, pois em 1932 ele escreve uma longa carta com ar literário, a única carta sua, desse gênero. A carta era uma circular, mas não sabe se ela foi enviada aos padres e à Arquidiocese.
Durante o ano de 1932, Pe. Libério se dedicava mais à saúde de sua mãe, que estava cada vez mais fragilizada. Os sinais de demência começavam a aparecer. Ela estava afetada ainda muito fortemente pela morte do filho Antônio. Há registros de alguns pesquisadores, que em certo tempo, Pe. Libério e sua irmã, tinham que sair de madrugada com a mãe a procura do filho Antônio pelas ruas de São José da Varginha.
Em 1933, o estado de saúde de dona Francisca foi se agravando cada vez mais, até que ela teve que ser acamada, fraca e doente, chamava um fio de voz o nome do filho Antônio. Ela não conseguia mais suportar a depressão que a consumia. Ela falece na manhã do dia 22 de setembro de 1933, junto do filho Libério e a irmã Maria.
O corpo de dona Francisca foi sepultado no cemitério de São José da Varginha. Pe. Libério teve de entregar o corpo de sua mãe à sepultura. Vendo-o chorando e desconsolado, uma catequista, sua amiga, o acolhe e o leva para a sua casa.
As últimas celebrações em Pequy aconteceram nos dias, 24, 25 e 27 de dezembro de 1933. Ao deixar por completo os atendimentos na Igreja de santo Antônio em Pequy, Pe. Libério intensificou seus esforços para que a comunidade de São José da Varginha fosse elevada a paróquia. Em uma carta a Dom Cabral, Pe. Libério relata seus dramas pessoais, que motivaram a deixar o atendimento à paróquia de Pequy. Possivelmente as lembranças da morte do irmão, a falta de dinheiro e o descaso do povo para com ele motivaram que ele não mais atendesse Pequy.
No ano de 1934, Pe. Libério ainda realiza um batizado e um casamento em Pequy. De 1934 a 1935, os dois padres eram regentes, Pe. Libério atende a zona rural e Pe. José atende a matriz, caso atípico para a Arquidiocese.
O ano de 1934 finda sem que Dom Cabral se posicionasse sobre a criação da paróquia de São José da Varginha. As batinas puídas e os sapatos rotos eram a marca registrada do Pe. Libério, reflexo de sua vida desapegada. A dificuldade na ingestão de alimentos e da fala parece revelar um atrofiamento da região maxilar.
Em 1° de janeiro de 1936, sob os esforços maiores do Pe. Libério junto à cúria de Belo Horizonte, foi criada a paróquia de São José da Varginha. Era uma conquista longamente defendida e aguardada por Pe. Libério.
O ano de 1936, começou trazendo mudanças positivas para Pe. Libério. As obras de ampliação da igreja, iniciada, seguia um ritmo acelerado. A partir daquele mês, Pe. Libério estava oficialmente desligado da função de padre regente da freguesia de Pequy e assumia a recém-criada paróquia de São José da Varginha.
Duas coisas que sempre marcaram a estadia do Pe. Libério nas paróquias, a qualidade de seu acolhimento e a capacidade de mobilizar multidões em torno de um projeto. Pe. Libério tanto construía templos como edificava a fé das pessoas, pela sua simplicidade, perseverança e amor ao próximo.
Em meios as obras de reconstrução da matriz de São José, entre suas idas e vindas seja de cavalo ou em automóvel, o religioso atraía sempre mais pessoas. Neste tempo cresceu significativamente a procura por suas benzenções. Muitas pessoas iam até o sacerdote buscar cura para suas enfermidades, e os relatos de fatos extraordinários aumentavam como sugere alguns documentos.
A música sempre esteve presente na vida do Padre Libério, desde a corporação fundada por Dr. Lund. em Lagoa Santa, depois os cantos religiosos em Mariana, passando pela sua primeira missa em Mateus Leme, onde foi acompanhado por uma banda de música cívica em cortejo, e nas festividades de inauguração da matriz de Nossa Senhora do Pilar em Pitangui. Pe. Libério gostava de cantar e tinha predileção pelas músicas que tinham como tema central Nossa Senhora.
As festividades de inauguração da nova matriz de São José da Varginha ocorreram em 29 de junho de 1937. Teve a concorrência de mais de 3 mil pessoas, e mesmo sem contar com policiamento, a inauguração aconteceu na mais plena paz. A benção da igreja aconteceu às 9 horas, diante de uma assembleia de fiéis leigos e autoridades políticas e religiosas. Houve procissão com banda de música e sermão, depois o solene Te Deum, a festividade foi encerrada com a benção do Santíssimo.
Neste ano de 1937 foram celebrados por Pe. Libério, 246 batizados, 40 casamentos, 100 atendimentos a enfermos com eucaristia.
Em 1° de janeiro de 1939, foi feito o anúncio da transferência de Pe. Libério para o arraial do Cercado, hoje Nova Serrana. Pe. Libério ficou como pároco regente até o final de dezembro de 1938.
A procura por suas benzenções tomava outra proporção, crescia ainda mais na nova paróquia. Pe. Libério retornava à uma terra já conhecida. Ele atendeu Nova Serrana de 1916 a 1923, quando ainda atuava como padre coadjutor em Pitangui.

Nesta época, Nova Serrana se chamava arraial de Pitangui, a denominação se deve ao fato da localidade fazer parte da área territorial de Pitangui, o lugar originou-se de um curral de uma fazenda, chamada Barra Brande do Cercado, ainda no século XIX. A localidade da época já mostrava a sua vocação de polo calçadista, visto que neste tempo começou a aparecer as primeiras confecções de botas e selas. O começo das sapatarias se daria por volta de 1941. Anos mais tarde tomaria o nome de Nova Serrana em homenagem a antiga cidade de Pitangui, que já tivera o nome de Velha Serrana.
A posse canônica de Pe. Libério se deu em 30 janeiro de 1939. Sua primeira missa foi realizada no dia 11 de fevereiro, seguida das exéquias em sufrágio á alma do Papa Pio XI, falecido no dia anterior, em Roma, Itália, de ataque cardíaco.
Neste tempo, Pe. Libério já apresentava alguns problemas de saúde. Mesmo assim atendia com solicitude a todos que o procuravam. Em 1941, Pe. Libério foi designado como confessor extraordinário das religiosas da Santa Casa de Misericórdia, em Pitangui.
Durante o ano de 1943, o arraial de Leandro Ferreira, que era assistido por Pe. Libério desde 1939, foi mencionado significativamente em seus relatórios.
O arraial necessitava de assistência religiosa contínua e carecia da construção de uma nova matriz. O número de habitantes totalizava em 2000 pessoas, e eles acompanhavam com admiração o trabalho do Pe. Libério.
Tendo o corpo tomado pelo cansaço, envelhecido, já contando com a idade de 59 anos, Pe. Libério pediu licença para tratar da saúde. Provavelmente foi para Pará de Minas, pois a cidade contava com um dos mais importantes hospitais da região.
Apesar de estar doente e de licença, Pe. Libério apareceu na cidade para receber o visitador arquidiocesano, Monsenhor Vicente Soares. Parece que o seu afastamento por motivo de doença durou poucos meses, porque em 31 de outubro de 1943, há um registro de uma benção realizada na capela Nossa Senhora do Perpetuo Socorro em Alves, Bom Despacho, na festa de Cristo Rei.
Em meados de deste ano de 1943, Pe, Libério foi intermediador de doações de vários terrenos à Arquidiocese de Belo Horizonte, para a construção de novas igrejas, como constam documentos enviados à cúria.
No final de 1945, Pe. Libério para de lecionar aulas de catecismo na igreja, isso estava associado ao fato do crescente número de fiéis que peregrinavam pelas estradas de terra até Pe. Libério em busca de cura para os seus males. Com isso também ele acaba por descuidar da parte administrativa da paróquia. Nesse período intensifica a devoção ao Pe. Libério.
Em dezembro de 1945, fora autorizada a construção da nova matriz de Leandro Ferreira e a transferência de Pe. Libério para aquela localidade. Cercado começava a ficar na lembrança do Pe. Libério.
Padre Libério aceita a nova tarefa, ser pároco da cidade de Leandro Ferreira e construir a nova matriz de São Sebastião. Embora reconhecesse que já tinha uma saúde frágil, aceita esta nova tarefa longa e exaustiva. Para todos os devotos que eram em grande número, o novo endereço de peregrinação seria Leandro Ferreira. A transferência do padre Libério para Leandro Ferreira deu novo alento àquela comunidade. Houve um aumento considerável no número de féis nas atividades paroquiais.
Leandro Ferreira tem esse nome, por causa de um morador antigo. A paróquia foi criada a partir de um desmembramento da freguesia de Cercado, hoje Nova Serrana. A primeira capela erguida em 1832 e era ligada ao bispado de Mariana, depois veio a se integrar à Arquidiocese de Belo Horizonte.
A casa onde o Padre Libério morava era extremamente simples e era muito próxima da capela antiga de Leandro Ferreira. Os dois espaços, a capela onde o padre celebrava e a sua residência formavam quase que um mesmo espaço. Quando os fiéis não o encontravam na igreja, atravessavam a rua e se dirigiam à sua casa, onde eram acolhidos pelo bom sacerdote.
Em um relatório enviado à Arquidiocese de Mariana, padre Libério relata que atendia em média 8.000 pessoas, que 2.000 eram atendidas só na matriz. Desde quem mudou-se para Leandro Ferreira com a sua irmã Maria, padre Libério empenhou-se vigorosamente na construção da nova matriz, apesar da sua saúde frágil.
Nos anos seguintes a 1946, Pe. Libério desenvolveu uma série de atividades em sua paróquia a fim de angariar recursos para a construção. O ritmo era acelerado, intercalando por períodos mais lentos, possivelmente causado pela busca de tratamento para a saúde em Divinópolis ou Pará de Minas.
Em 1949, houve um aumento extraordinário de comunhões, chegando a 38.684, para uma população de 2.000 pessoas. A pedra fundamental da nova construção foi colocada nas missões redentoristas acontecidas em 13 de maio de 1950. O construtor foi o senhor José Paulo Etelvino.
Padre Libério registrou que benzeu a capela de São João Batista de Lagoinha (hoje comunidade de Capelinha). Por ocasião da proclamação do dogma da Assunção de Maria Santíssima por Pio XII, foram celebradas várias missas cujos pregadores foram o Pe. Guerino Pontello e o Pe. José Soares de Siqueira.
Em um retiro espiritual em janeiro de 1953, Monsenhor José Augusto Dias Bicalho relatou que um número de fiéis havia se afastado dos compromissos religiosos, por causa dos modismos, mas em Leandro Ferreira o cenário era diferente, por causa da presença do Pe. Libério, o número de fiéis frequentadores da igreja só crescia.
No dia 27 de janeiro, morre a irmã do Pe. Libério, Maria. Ela faleceu aos 56 anos de idade. O corpo começou a ser velado na tarde do mesmo dia. Aos poucos as pessoas iam chegando para último adeus à estimada irmã do padre. Por volta as 22 horas Pe. Libério pediu que todos fossem para as suas casas descansar. Ele mesmo depois de orar diante do corpo morto da sua irmã, encostou na cama e dormiu até as primeiras horas do dia. O cortejo ao cemitério foi simples, singelo, como fora a vida de Maria. Nenhum membro da sua família o podia acompanhar mais. Ele com 71 anos de idade estava só no mundo.
Segundo o relato de padre Geraldo Maria de Morais Penido, em visita pastoral em 1955, a igreja de Leandro Ferreira concorria com as melhores igrejas das maiores cidades. E que isso se devia a fecundidade do apostolado do Revmo. Padre Libério.
No dia 21 de dezembro de 1958, Dom João Resende Costa chegou para benzer a belíssima igreja. A inauguração definitiva, depois de concluídos os últimos acabamentos ficaria para junho de 1959, quando seria sagrado o altar principal.
No mês de janeiro, no dia 4, foi realizado o primeiro casamento, entre o Sr. Raimundo Justino Jacinto e Dona Conceição Teixeira de Faria. A primeira criança a ser batizada foi Júnia de Oliveira Souza, filha de Genésio de Souza e de Maria de Lourdes de Oliveira Souza, ocorrido em 16 de janeiro.
A instalação definitiva da diocese de Divinópolis ocorreu a 17 de maio de 1959. Sua criação se deu pela Bula Qui a Cristo, pelo papa Pio XII em junho de 1958. A paróquia de São Sebastião de Leandro Ferreira passou a pertencer a nova Diocese de Divinópolis.
Sempre que podia Pe. Libério ia à Divinópolis e à Pará de Minas, ora para uma visita aos amigos, ora para consultas médicas. A partir de julho de 1959, Pe. Libério passou a ter o auxílio do Pe. Antônio dos Santos Romão na organização da parte burocrática da paróquia. Neste tempo, o estado de saúde do Pe. Libério já era delicado, estava com a idade de 75 anos.
A década de 1960, iniciou-se com a saúde do Pe. Libério exigindo cuidados especiais. Sempre que ia em alguma reunião da diocese, ficava hospedado na casa paroquial da Catedral. Foi neste tempo que ele conheceu a vila vicentina do bairro Niterói de Divinópolis, um lugar que marcaria a sua vida nos últimos anos.
Em 27 de setembro de 1964, a igreja de Leandro Ferreira foi sagrada pelo bispo diocesano Dom Cristiano Frederico Portela de Araújo Pena. Naquela época, devido a saúde debilitada do Pe. Libério, já era tempo que fosse encontrado um lugar em que ele pudesse continuar celebrando mais que tivesse mais tempo para tratar da saúde.
Padre libério acaba por ir morar em Pará de Minas, isso ocorreu no final do ano de 1965. A mudança foi gradativa, ele ainda ia muito em Leandro Ferreira. Pará de Minas pareceu ser um lugar mais tranquilo para que Pe. Libério exercesse seu ministério. Porém, a fama do Pe. Libério já se tinha alastrado e muitas pessoas acorriam a sua residência em busca de alívio para os seus males.
Pe. Libério nunca disse que era devoto de São Sebastião, pelo menos ninguém soube de alguma declaração sua. No entanto, é muito curioso o fato dele ter sido nascido próximo à uma igreja de São Sebastião e ter sido batizado nela. Várias igrejas onde ele trabalhou ou ajudou a construir tem como padroeiro São Sebastião. E que sua última construção foi uma igreja dedicada a São Sebastião, a de Leandro Ferreira.
Outra curiosidade, na exumação, ocorrida em 12 de março de 2016, seus restos mortais foram transladados por uma funerária de nome São Sebastião. Depois de uma vida dedicada a igreja e ao próximo, Pe. Libério agora teria uma casa própria. Ele sempre morou em casas paroquiais ou em casas alugadas. A cidade agora era Pará de Minas, onde foi acolhido e cuidado por muitos anos.
A compra da casa ocorreu em 1962, e só foi possível porque muitos ajudaram em doações para a compra. Conta-se que desde 1963, Pe. Libério já ocupava a residência ocasionalmente. A casa situava-se à Rua Ernesto Espíndola, Nº 363, Bairro Nossa Senhora das Graças.
A mudança definitiva do Pe. Libério para Pará de Minas ocorreu em fins de 1965, com a devida autorização do bispo diocesano Dom Cristiano. O servo de Deus celebrava missa às 15 horas na Igreja Nossa Senhora das Graças. A sua casa ficava ao lado da igreja, numas das ruas de acesso a ela.
Com o passar do tempo, Pe. Libério já não tinha mais o vigor de antes, e por isso precisava de auxílio de uma bengala para se locomover. Neste tempo, o servo de Deus teve de reestruturar sua vida sacerdotal. Ele já não podia mais cuidar de uma paróquia. Aos poucos ele foi diminuindo suas atividades pastorais.
Ao longo de 1966, a rua pacata onde Pe. Libério passou a morar, passou a ser um lugar de peregrinação. Agora, a rua pacata estava sempre cheia de ônibus e de carros, muitas pessoas buscando benzenções e curas. A porta da casa ficava sempre aberta. O peregrino se deparava com um homem de semblante calmo e sereno, sentado à uma cama, sempre com um sorriso pronto a dar uma benção para as pessoas e para os objetos.
Neste tempo, os vários veículos de comunicação narravam acontecimentos extraordinários. Havia sempre alguém contando um caso de exorcismo, bilocação, bençãos que afastavam animais peçonhentos. Dentre estas narrativas, conta-se que uma mina em São José da Varginha, que ficava no fundo da casa onde o Pe. Libério morou, secava em certas épocas do ano. Porém, a partir da benção do querido sacerdote, ela não mais secou, passando a oferecer água a todos os moradores.
Em 13 de dezembro de 1965, numa tarde quente de segunda-feira, um incêndio ocorrera no posto de gasolina, chamado Caramuru, localizado no final da rua Benedito Valadares. Tinha todos os elementos para uma grande tragédia. O fogo destruiu parte do posto e danificou um caminhão que no momento transferia combustível para um tanque. Havia 9 mil litros de combustível no momento do ocorrido. A causa do incêndio nunca foi devidamente esclarecida.
Segundo alguns relatos, algumas pessoas foram até a residência do Pe. Libério pedir que ele benzesse o fogo para que este apagasse. Conta-se que ele foi até a esquina para rezar e que depois disso as chamas se acalmaram e o incêndio acabou.
No início de 1966, Pe. Libério comemorou 50 anos de seu sacerdócio junto de seus amigos e admiradores, que se completara em 25 abril. No final da década de 1970, Pe. Libério se hospedava na vila vicentina de Divinópolis, ocasionalmente, lugar que acolhia idosos desamparados e mães solteiras. Em 17 de agosto de 1969, Pe. Libério concelebrou com Dom Cristiano, comemorando os 25 anos de vida sacerdotal.
Mesmo diante de uma saúde debilitada, Pe. Libério conservava o rosto tranquilo e sorridente de sempre. Nos últimos anos de vida, Pe. Libério tinha muita dificuldade de locomover-se. Era com muita penúria que ele se deslocava da sua residência para a igreja Nossa Senhora das Graças para a missa das 15 horas.
Ele recebeu autorização do bispo para celebrar a missa das 15 horas em frente a sua casa, sempre com a ajuda de algum benfeitor. A missa na verdade, começava ás 14: 30 horas e ia até as 15 horas, reduzida em meia hora, sempre muito concorrida. Até para o manuseio dos objetos da liturgia, ele dependia da ajuda de alguém, e fazia muito esforço para ser ouvido e ouvir, visto que, naquela época não havia nenhum equipamento de som.
O Venerável Pe. Libério abençoava inúmeros objetos, abençoava pessoas, carros. Ele usava um vidro de desodorante para aspergir tudo e todos com água benta. Após a missa, Pe. Libério era levado para o seu quarto em casa e lá continuava atendendo pessoas de toda parte. Não havia hora nem para o banho nem para o jantar, sempre tinha alguém esperando para ser atendido. Foi por causa desta situação que já se pensava em transferir Pe. Libério para a vila vicentina de Divinópolis.
Em entrevista a Pedro Moreira, Pe. Libério reconheceu que ficava cansado com a insistência do povo, mas ao mesmo tempo se sentia feliz, porque era sinal de que o povo tinha fé. Ele conta que tinha vontade de ser padre desde os sete anos de idade.
Em 1980, as condições de saúde do Pe. Libério pioravam visivelmente. Para ser mais bem cuidado visto que a vila vicentina de Divinópolis ficava ao lado do Hospital São João de deus, ele foi transferido em 14 de julho do mesmo ano. Nesta época, Pe. Libério começou a usar uma cadeira de rodas, abandonando a bengala. Ele continuava a celebrar missa as 15 horas. Eram muito concorridas. Numa decisão do bispo da época, ficou decidido que um padre concelebraria com Pe. Libério uma vez por semana. Em meados do mês de dezembro, Pe. Libério foi internado no Hospital São João de Deus, estava muito debilitado, e quase não pronunciava palavra alguma. Vez ou outra escutava um fio de voz, cantarolando músicas da igreja e rezando.
A grande preocupação era que vindo Pe. Libério à óbito, onde sepultar, qual a cidade. Todas as cidades onde ele foi padre mereciam ter em sua terra seu corpo sepultado. Mas o bispo diocesano, em reunião com o conselho da diocese, apesar do pedido do prefeito de Pará de Minas, decidira que o corpo do Pe. Libério seria sepultado em Leandro Ferreira, por ser o lugar em que foi pároco por mais tempo.
Libério morre aos 22 de dezembro de 1980, seu corpo foi visitado por número muito grande de pessoas. Seu corpo jazia num caixão, com roupas simples, calças, camisa, uma alva branca e terço. Ao amanhecer o corpo do servo de Deus foi velado na Catedral do Divino Espírito Santo, no coração da diocese. A missa de exéquias foi celebrada por Dom José Costa Campos, com a presença de muitos sacerdotes. Formou-se um fila muito grande de pessoas que queriam dar o último adeus àquele sacerdote que eles tanto amavam.
O cortejo chegou à Leandro Ferreira a tardinha, porque antes havia passado em Pará de Minas para que os paraminenses dessem o seu último adeus ao seu morador mais ilustre. A igreja de São Sebastião que ele havia construído se torna o lugar de sua despedida. O velório e as exéquias foram feitos de forma rápida, pois já caía a noite.
Eram 23:30 horas do dia 22 de dezembro de 1980, em meio às orações e cantos o corpo do Venerável Pe. Libério foi levado à sepultura. Morre um sacerdote extraordinário que deixou um legado de fé e amor. Foi na mansidão de uma noite escura que ele nos deixou.
Padre Adelmo Sérgio Gomes
Administrador dos Bens Temporais da Causa de Beatificação do Venerável Padre Libério Rodrigues Moreira.